segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ausência de candidatos a vice mostra falta de lideranças; cargo abrevia acesso ao poder

 

Especial para Olhar Direto - Jonas da Silva
Foto: Montagem Olhar Direto
Candidatos a prefeito em Cuiabá
Candidatos a prefeito em Cuiabá
A briga dos últimos três dias antes das eleições em Cuiabá e Várzea Grande não foi claramente quanto a quem seria o candidato imbatível para ganhar a disputa. Foi uma andança enlouquecida de principais líderes e partidos para indicar o cargo de vice em chapa supostamente vencedora.

Haja reuniões, noites sem sono e telefonemas. E pior, faltam nomes e lideranças preparadas das agremiações do cenário político para convencer multidões.

Outro detalhe é que os atuais mandatários em Cuiabá e Várzea Grande eram vices, seja por conduta pública inadequada dos titulares punidas pela Justiça Eleitoral ou por outros projetos políticos. Ou seja, os vices acabaram por dividir mandatos e a conjuntura chamou a atenção pela briga da vaga.

O melhor exemplo certeiro da disputa pela vaga de vice foi mostrada pelo PMDB com Totó Parente. Líder estudantil, ex-vereador, candidato da sigla em 2004, peemedebista que conhece bem as bases e sentimentos do partido, ele foi colocado diante do ex-governador e senador Blairo Maggi e seu PR como bode na sala. Bateu o pé em candidatura própria.

E não é que Totó acabou por ter sucesso? Com aval e sustentação da cúpula partidária estadual e municipal, arrancou para seu partido a vaga de vice-prefeito na chapa de Lúdio Cabral (PT), no nome do ex-vereador por Alta Floresta e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), advogado Francisco Faiad.

Fora esta estratégia, a prova da tese de ausência de novas lideranças no jogo de poder é que entre os quatro principais candidatos em Cuiabá, pelo menos dois estão com seus vices indefinidos, Carlos Brito (PSD) e Guilherme Maluf (PSDB). Sem falar na rebeldia dos candidatos a vereador do PR.

Mesmo com aval da Executiva republicana de Cuiabá, os que vão disputar a Câmara preferem o vereador Francisco Vuolo, desejado antes pelo candidato Mauro Mendes (PSB) e o senador Blairo Maggi (PR).

O caso se repete em Várzea Grande. Lá, nos finalmentes, já na noite de sábado, o atual prefeito Tião da Zaeli (PSD) desmanchou a candidatura da professora Nicinha, Eunice Teodora dos Santos (PSB) para torná-la sua vice. Na cidade, por exemplo, o PSDB até ensaiou o nome do empresário Adauton Tuim para titular de prefeito ou até vice-prefeito. Até onde se sabe, a ideia não vingou.

Ainda na antes Cidade Industrial, o Democratas (DEM) da família dos ex-governadores Júlio Campos (deputado federal) e Jaime Campos (senador) fechou em si e referendou o nome do ex-secretário e coordenador da primeira campanha de Murilo Domingos (PR), Arilson Arruda (PRB). E Walace optou pelo vereador Wiltinho Coelho (PR).

Faltam quadros
A falta de vices, com exceção da briga do PR na Capital, é uma contradição na política da democracia representantiva em que vivemos. Por ela, lideranças querem sempre mais poder e catapultar cada vez mais seus grupos. Em geral, partidos e grupos políticos não formam quadros preparados para gestão futura e liderar suas siglas.

O exemplo emblemático do caso é o DEM e mesmo do PP, que definharam em representatividade nos últimos anos no Congresso Nacional e em referências perante a opinião pública. Não por menos, o DEM de Cuiabá foi barrado pela cúpula tucana com sua pretensão de ter vice de Maluf. O nome não seria qualificado.

O PMDB está quase neste meio termo de novas lideranças. Com a permissão que o citado entenderá como algo importante, o exemplo a seguir ilustra bem. No ano passado, o então prefeito de Rondonópolis, José Carlos do Pátio (PMDB), comparava em seu gabinete sua sigla com a nascente força do PSB.

Ele dizia que os socialistas estão em espécie de crista da onda, com lideranças como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cotado para vice da presidente Dilma Rousseff em 2014 ou candidato em 2018, um "jovem de 40 e poucos anos"; o irmão do ex-ministro Ciro Gomes, Cid Gomes, governador do Ceará.

Ao mesmo tempo analisava que o seu PMDB tinha um ministro do Turismo de cerca de 80 anos, Pedro Novais, afastado por gulodices e tentações que a máquina pública favorece.

Se nos grandes partidos, o desafio de quadros é grande, imagine naqueles médios e pequenos?

Como se pode ver, a comparação é exemplar sobre a forma como alguns partidos entendem a administração pública, quando inevitavelmente a mistura com as intenções privadas.

Em Mato Grosso, algumas lideranças novas se despontam, em processo natural para suceder, seja no debate de ideias e projetos na cena política, ou como força eleitoral capaz de ascender ao poder. É uma prática histórica da representação de governos e legislativos eleitos pelo voto popular. É da democracia a alternância de representantes.

Vez ou outra, o eleitorado entende este sinal. Outras vezes não, aproveita-se do poderio econômico e força persuasiva do marketing de candidatos para satisfazer suas necessidades humanas pessoais e urgentes, em detrimento de aspirações e demandas coletivas de curto e longo prazo em políticas públicas.

Poder de vice
Em um país em que sempre se fala que "vice não manda nada", os políticos de plantão trataram de desfazer a sabedoria popular. Até o vice-governador Chico Daltro (PSD) cabe como caso de estudo e observação da população e servidores.

Antes da posse e posteriormente, ele negociou várias vezes com o atual ocupante do Palácio Paiaguás, governador Silval Barbosa (PMDB), mais espaço e poder de mando. Assim, obteve força na gestão ao trazer para si autarquias e outros penduricalhos do governo, leia-se responsabilidade de definir e decidir sobre políticas públicas para ampliar dividendos políticos.

Mas o papel de vice-prefeito nestas eleições aguçou a cabeça de líderes partidários cuiabanos e várzea-grandenses. É só relembrar. Em 2008 Wilson Santos foi reeleito prefeito ao derrotar Mauro Mendes, então PR, e seu vice-prefeito virou o atual prefeito Chico Galindo, com a saída do tucano para a errante campanha ao governo de 2010.

A situação é equivalente em Várzea Grande. Murilo Domingos (PR) reeleito em 2008 viu a guerra de afastamento e posse até ser cassado e cedido o lugar para o atual prefeito à reeleição, Tião da Zaeli, antes PR e agora PSD.

Por decisões da Justiça Eleitoral diante das mazelas de improbidades e outros atos não permitidos por gestores públicos, outros prefeitos de grandes cidades de Mato Grosso também caíram fora das benesses da administração. Cerca de 25 prefeitos desde 2008 foram trocados.

São os casos de Túlio Fontes (DEM) em substituição a Ricardo Henry (PP) e Júlio César Ladeia (PR) e seu vice José Jaconias (PT) foram cassados e trocados em eleição suplementar pelo ex-prefeito da cidade e atual prefeito, Saturnino Masson (PSDB).

Como se percebe, a política tem suas idas e vindas, as artimanhas. Entretanto, seguem-se os embates eleitorais. Cabe ao eleitor perceber, sem se prender muito à paixão, qual é o melhor para sua cidade e esgotar todas as dúvidas antes da escolha não para o dia da eleição, mas para os próximos quatro anos da sua vida.

Porque do prefeito depende o bem-estar do cidadão, seja com serviços emergenciais, como saúde, educação, trânsito e iluminação pública. E tantas outras necessidades do cotidiano. O destino das 141 cidades de Mato Grosso, portanto, está nas mãos dos cerca de 2,2 milhões de mato-grossenses. E a sorte foi lançada com o fim das convenções.

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