quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pantanal pode ter 126 usinas; peixes sofrerão riscos

  • Pantanal pode ter 126 usinas; peixes sofrerão riscos


  • Para pesquisadora da Embrapa, espécies migratórias como o pacu serão afetadas



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    Pesquisadora Débora Calheiros alerta para risco à reprodução de espécies, na Bacia do Alto Paraguai

    RODRIGO VARGAS
    DA REDAÇÃO
    A concretização de 82 usinas e centrais hidrelétricas em processo de licenciamento para a Bacia do Alto Paraguai, em Mato Grosso, vai colocar em risco a reprodução de espécies migratórias de grande valor comercial e turístico, como o pacu e o pintado, e a qualidade das águas do Pantanal.

    Ao todo, segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), 126 empreendimentos estão previstos para a região, dos quais 44 já estão em operação.

    A maior parte - 70% - é de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), com potência instalada menor do que 30 megawatts.

    Segundo a pesquisadora Débora Calheiros, da Embrapa Pantanal, apesar de operarem a "fio d'água" - ou seja, sem necessidade de reservatórios de grande porte -, as PCHs represam nutrientes e material em suspensão que contribuem para o funcionamento ecológico da planície.

    "As PCHs não mudam a quantidade da água, mas a qualidade", disse ao MidiaNews a pesquisadora.

    Mas, segundo ela, efeito combinado das usinas pode afetar o fluxo de água e os pulsos de inundação.

    "O problema é que estão previstas várias PCHs para o mesmo rio, tendo como resultado final um impacto semelhante ao de um grande reservatório", declarou.

    Conforme a pesquisadora, 75% da água do sistema pantaneiro vêm do norte da bacia, onde se concentra a maior parte dos projetos previstos.

    "O pulso de inundação, mudando em cada um dos principais rios formadores do Pantanal, teria impactos imprevisíveis, afetando o funcionamento característico do Pantanal", disse Débora Calheiros.

    A pesquisadora afirmou que cerca de 70% do potencial hidrelétrico da bacia do Alto Paraguai já estão instalados.

    Na sub-bacia do rio Cuiabá, por exemplo, são cinco as barragens com geração superior a 30 megawatts.

    "O aproveitamento de 100% do potencial levaria à perda de outros serviços ambientais em favor da produção de energia, como produção pesqueira e turismo", disse a pesquisadora.

    Espécies migratórias como o pacu também poderão enfrentar redução populacional. "Em qualquer bacia onde se tem barragens, a produção pesqueira cai sensivelmente. E onde tem 126? Como prever?", afirmou.

    A situação foi discutida na semana passada em um seminário promovido em Cáceres (225 km a Oeste de Cuiabá), com a participação de representantes dos ministérios públicos federal e estadual.

    No documento intitulado "Carta de Cáceres", os participantes defenderam a suspensão dos licenciamentos, até que seja concluída uma avaliação ambiental do impacto conjunto dos empreendimentos previstos.

    "A energia gerada pelas PCHs em planejamento equivalem a apenas 1% da energia a ser ofertada para o país. Ou seja, estaríamos trocando a conservação do Pantanal por 1% de energia", completou a pesquisadora.
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